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Internação Psiquiátrica: O Que Você Precisa Saber

A internação psiquiátrica ainda é um tema cercado de dúvidas e, muitas vezes, de receio. Ao longo dos quase seis anos em que trabalhei no setor de internação psiquiátrica do Hospital de Viamão, presenciei inúmeras histórias de pacientes e familiares que se surpreendiam ao descobrir a existência de uma emergência psiquiátrica na cidade. Isso reforça a necessidade de esclarecer esse assunto de forma acessível, ajudando pessoas que possam precisar desse tipo de cuidado.

Neste artigo, vou explicar como funciona a internação psiquiátrica, os diferentes tipos de internação e os principais motivos que levam um paciente a buscar esse tipo de atendimento.


Os Tipos de Internação Psiquiátrica

Quando se fala em internação psiquiátrica, muitas pessoas desconhecem que há diferentes formas de admissão ao hospital. Basicamente, a internação pode ocorrer de três maneiras:

1. Internação Voluntária

✅ O próprio paciente reconhece a necessidade de tratamento e busca ajuda espontaneamente.
✅ Ele comparece ao hospital, onde é avaliado por uma equipe médica para determinar se há indicação para internação.

2. Internação Involuntária

⚠️ Ocorre quando o paciente precisa de internação, mas não tem discernimento para reconhecer isso ou se recusa ao tratamento.
⚠️ Um familiar ou responsável pode solicitar a internação, que será avaliada pela equipe médica.
⚠️ Obrigatoriamente, o Ministério Público deve ser informado.

3. Internação Compulsória

⚖️ Determinada pela Justiça, quando o paciente representa risco para si mesmo ou para terceiros.
⚖️ Diferente da internação involuntária, essa decisão não parte da família ou do hospital, mas sim da Justiça, baseada em laudos médicos.

Cada tipo de internação tem seus critérios e regulamentações. Compreender essas diferenças pode ajudar familiares e pacientes a enfrentarem esse processo com mais clareza e segurança.


A Emergência Psiquiátrica e o Processo de Internação

Durante meu período na emergência psiquiátrica do Hospital de Viamão, participei diretamente da acolhida de pacientes e da triagem junto aos psiquiatras. Esse primeiro atendimento é fundamental para avaliar se há necessidade de internação e qual a melhor abordagem para cada caso.

Os pacientes podem chegar ao hospital de diferentes formas:

➡️ Encaminhados pelo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial): Quando um paciente já está em acompanhamento e a equipe percebe que a internação é necessária.

➡️ De forma espontânea (“portas abertas”): O paciente ou sua família busca o hospital por conta própria para avaliação.

➡️ Trazidos por equipes de emergência ou familiares: Especialmente em casos de crises graves.

A triagem inicial envolve:
✔️ Coleta de informações sobre o histórico do paciente
✔️ Identificação dos sintomas atuais
✔️ Avaliação do contexto da crise

Com base nessa análise, decide-se se a internação é necessária ou se outras intervenções podem ser mais adequadas.


Principais Motivos para a Internação Psiquiátrica

Os quadros que mais frequentemente levam um paciente à internação incluem:

1. Psicose e Esquizofrenia

🧠 Pacientes com delírios, alucinações ou perda do contato com a realidade podem precisar de internação para estabilização medicamentosa e acompanhamento intensivo.

2. Dependência Química

💊 Crises de abstinência, surtos psicóticos induzidos por drogas e recaídas graves podem necessitar de internação para desintoxicação e manejo dos sintomas.

3. Transtorno Bipolar Tipo 1

⚡️ Episódios maníacos severos, com comportamentos impulsivos e risco elevado, muitas vezes exigem internação para controle e ajuste do tratamento.

4. Transtornos de Personalidade (especialmente Borderline)

🌀 Crises emocionais intensas, comportamentos autodestrutivos e tentativas de suicídio são comuns e, em alguns casos, a internação é necessária para garantir a segurança do paciente.

5. Transtornos de Ansiedade e Pânico

❗ Crises severas que não respondem a tratamentos ambulatoriais podem levar à internação temporária para estabilização.

Cada caso deve ser avaliado individualmente, garantindo que a internação seja de fato a melhor opção.


A Atuação do Psicólogo Dentro da Internação Psiquiátrica

Dentro da unidade de internação, meu trabalho envolvia atendimentos individuais e em grupo, incluindo:

✔️ Acompanhamento psicológico individual, ajudando os pacientes a compreender e lidar melhor com sua condição.

✔️ Palestras e grupos psicoeducativos, abordando temas como manejo da ansiedade, regulação emocional e ressignificação da experiência de internação.

✔️ Entrevistas motivacionais para dependentes químicos, auxiliando na adesão ao tratamento e construção de novos caminhos.

✔️ Psicoeducação para transtorno bipolar e esquizofrenia, ajudando os pacientes a reconhecer sinais precoces de crise e a importância da adesão ao tratamento.

✔️ Trabalho com pacientes com ideação suicida, oferecendo suporte e estratégias para reduzir o risco de novos episódios.

A internação psiquiátrica não se resume apenas ao tratamento medicamentoso. O trabalho psicológico é essencial para que o paciente compreenda seu processo de recuperação e desenvolva recursos para lidar com seus desafios após a alta hospitalar.


Conclusão

Compreender a internação psiquiátrica e seus processos pode reduzir estigmas e facilitar o acesso ao cuidado adequado. O Hospital de Viamão, assim como outros serviços de saúde mental, desempenha um papel crucial no acolhimento de pacientes em momentos críticos, garantindo que recebam o suporte necessário para sua recuperação.

Se você ou alguém que conhece precisa de informações sobre internação psiquiátrica, buscar orientação profissional é sempre o melhor caminho. A saúde mental deve ser tratada com seriedade e cuidado, e a internação, quando necessária, pode ser um passo fundamental para a estabilização e reabilitação do paciente.

Bastidores da Internação Psiquiátrica: Desafios e Reflexões

A internação psiquiátrica é um recurso essencial para o cuidado de pacientes em momentos de crise. No entanto, por trás do processo, existem desafios pouco discutidos, que impactam tanto os profissionais de saúde quanto os próprios pacientes e seus familiares. Aqui, trago algumas reflexões sobre questões sensíveis que fazem parte da realidade hospitalar.

O Benefício Assistencial (LOAS/BPC) e os Diagnósticos Psiquiátricos

O Benefício de Prestação Continuada (BPC), conhecido como LOAS, é um direito garantido a pessoas com deficiência que comprovem vulnerabilidade social. Entre as condições que permitem o acesso ao benefício, transtornos psiquiátricos graves, como esquizofrenia e autismo, frequentemente são considerados.

No entanto, há casos em que o diagnóstico pode ser concedido de forma questionável. Por exemplo, pacientes que apresentam quadros de surto psicótico devido ao uso de substâncias podem ser diagnosticados como esquizofrênicos, mesmo sem preencher os critérios para a doença. Isso levanta uma preocupação ética: quando um laudo médico não reflete a realidade clínica, pode comprometer tanto a credibilidade do diagnóstico quanto o acesso de pacientes que realmente precisam do benefício.

Da mesma forma, algumas famílias buscam diagnósticos de autismo para crianças que não preenchem os critérios clínicos, o que pode impactar diretamente aqueles que de fato necessitam de suporte especializado. Esse fenômeno gera um efeito colateral preocupante: a banalização do diagnóstico e a sobrecarga dos serviços que atendem pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento.

O INSS e os Diagnósticos Psiquiátricos em Perícias

Pacientes com transtornos psiquiátricos graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar tipo 1, muitas vezes precisam de perícias médicas para afastamento do trabalho ou aposentadoria por invalidez. No entanto, há situações em que pessoas sem esses transtornos buscam internação com o objetivo de obter um laudo favorável para a concessão de benefícios previdenciários.

Isso coloca os profissionais em um dilema ético e clínico: como diferenciar um quadro psiquiátrico legítimo de um que é utilizado estrategicamente para fins burocráticos? Essa distinção nem sempre é simples, pois o sofrimento psíquico é subjetivo e complexo. No entanto, a importância de uma avaliação criteriosa é inegável, garantindo que os recursos sejam destinados a quem realmente precisa.

A Internação como Caminho para Benefícios

Outra situação delicada envolve pacientes que relatam ideação suicida ou tentativas de autoextermínio. Em alguns casos, a intenção real da internação pode não ser exclusivamente o tratamento, mas sim a obtenção de um laudo que favoreça processos administrativos, como afastamentos trabalhistas e perícias judiciais.

Isso não significa que todos os relatos de comportamento suicida sejam duvidosos – pelo contrário, cada caso deve ser tratado com máxima seriedade. No entanto, dentro da internação, muitas vezes fica evidente que o objetivo não era exclusivamente terapêutico, mas sim um meio para um fim burocrático. Esse cenário exige dos profissionais um olhar atento e uma abordagem equilibrada, sem julgamentos precipitados, mas também sem comprometer a ética da prática clínica.

O Preconceito Contra Pacientes Psiquiátricos

Um desafio recorrente na internação psiquiátrica é o preconceito dentro do próprio ambiente hospitalar. Profissionais de saúde que não atuam diretamente na psiquiatria podem, por falta de experiência ou estigma, ter dificuldades no acolhimento de pacientes psiquiátricos que chegam à emergência.

Isso se reflete em atitudes como descrença nos sintomas relatados, impaciência no atendimento ou até mesmo resistência em lidar com esses pacientes. O preconceito pode dificultar o manejo adequado das crises e comprometer a qualidade da assistência, reforçando barreiras para um cuidado humanizado e eficaz.

Conclusão: O Papel da Ética e da Consciência Profissional

Os desafios abordados aqui não são apenas questões burocráticas ou técnicas, mas dilemas que impactam diretamente a vida de pacientes, famílias e profissionais de saúde. O equilíbrio entre assistência de qualidade, critérios diagnósticos rigorosos e acesso justo a benefícios sociais é fundamental para garantir um sistema de saúde mais ético e eficiente.

É essencial que o debate sobre essas questões continue, sempre com respeito, embasamento técnico e compromisso com o cuidado daqueles que realmente precisam.

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